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sábado, 1 de setembro de 2012

Ecologia - Política - A desfaunação da Mata Atlantica

Eu começo o mês de setembro bastante incomodado... para não dizer irritado...
Posto uma reportagem do mês de agosto (postei a reportagem inteira) sobre a desfaunação da Mata Atlântica brasileira. Somente 4 espécies ainda se mantém "abundantes" nas matas tropicais brasileiras, não tem mais onça, não tem mais anta, não tem mais tamanduá... Não dá... Não dá...
Posto também o artigo, em inglês, que mostra o estudo completo. Da revista Plos ONE

Mata atlântica foi 'esvaziada' de mamíferos, diz estudo

REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA + SAÚDE" 
Folha.com

O termo parece um palavrão e, de fato, a situação que descreve não é nada bonita: "desfaunação". Ou seja, o sumiço da fauna -- um fenômeno que parece ter afetado 80% da mata atlântica que ainda resta numa região vasta, que vai do leste de Minas Gerais a Sergipe.

Nessas regiões, uma hecatombe parece ter exterminado quase todos os mamíferos pesando mais de 5 kg -- mesmo quando a floresta propriamente dita, à primeira vista, está intacta, mostra um novo estudo, que acaba de ser publicado na revista científica "PLoS ONE".

A pesquisa, feita por uma equipe que inclui os brasileiros Gustavo Canale, da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso) em Tangará da Serra, Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), Cassiano Gatto (Inpa), Carlos Guidorizzi (ICMBio) e Cecília Kierulff (Instituto Pri-Matas), envolveu um levantamento numa área de mais de 250 mil km 2 de mata atlântica em Minas Gerais, Bahia e Sergipe.

Com ajuda de imagens de satélite e aparelhos de GPS, os pesquisadores mapearam os principais fragmentos de floresta nessa região --cerca de 200. A equipe, então, fez levantamentos rápidos da fauna em cerca de 50 deles. Nos demais casos, entrevistaram moradores da zona rural de cada região, os quais estivessem habituados a visitar a mata e morassem havia anos perto da floresta, em busca de informações sobre as espécies que eles costumavam ver nos fragmentos de floresta.

O alvo da equipe era um conjunto de 18 espécies de mamíferos de porte grande e médio. São animais como onças, antas, veados, tamanduás e macacos-pregos. Um dos critérios para escolher esses bichos específicos como indicadores do estado da fauna nos fragmentos de mata, explicou Gustavo Canale à Folha, foi o fato de que seria fácil para os moradores identificá-los numa conversa com os cientistas.

"A gente queria evitar espécies mais crípticas [de identificação mais difícil] ou ariscas, como gatos-do-mato ou jaguatiricas", afirma ele. "Também são bichos bastante caçados, o que leva os moradores a procurá-los mais na mata. E também são relativamente pouco exigentes em termos de ambiente."

RESTAM QUATRO

O resultado não foi dos mais auspiciosos: das 18 espécies de mamíferos, só quatro, em média, ainda ocorrem por fragmento de mata com tamanho entre 50 hectares e 5.000 hectares.

Mesmo em trechos de floresta considerados muito grandes para o estado atual da mata atlântica (os com mais de 5.000 hectares), só sete espécies, em média, ainda estavam presentes.

Na prática, isso significa que bichos como onças-pintadas, queixadas (um tipo de porco-do-mato), tamanduás-bandeiras, antas e muriquis (o maior macaco das Américas) estão praticamente extintos nesse pedaços importantes da mata atlântica.

Preguiças, pacas, bugios e raposas se saem só um pouco melhor. Os únicos mamíferos a resistirem em mais de metade dos fragmentos estudados são os saguis.

"Uma coisa interessante que nós vimos é que, no caso dos remanescentes florestais, tamanho não é documento", afirma Canale. "A gente esperaria que, quanto maior o fragmento, maior a chance de ele preservar uma diversidade mais ampla de espécies, mas não é o que acontece."

A explicação para o estrago até nos remanescentes florestais maiores, segundo os pesquisadores, é relativamente simples: mesmo quando a mata não era derrubada, a caça nessas regiões continuou e ainda hoje é muito comum, o que acabou com as espécies grandes.

A situação só é diferente, afirmam eles, nos fragmentos que também são áreas protegidas por lei. Nesses lugares, mostra o estudo, a maioria das espécies ainda pode ser encontrada -o que, para os biólogos, indica que é preciso criar mais áreas protegidas de forma efetiva.

DIFERENÇAS REGIONAIS?

Para o biólogo da Unemat, é difícil saber se essa situação desoladora é a mesma em outras regiões da mata atlântica, no Sudeste e no Sul, por exemplo.

"Todo mundo tinha a sensação de que essas espécies estavam dançando na mata atlântica do Nordeste. O que o nosso trabalho é quantificar isso. Não existe uma quantificação comparável para outras regiões, mas pode ser que a situação seja um pouco melhor no Sudeste por razões históricas, pelo tipo de caça preferida, por exemplo. A gente sente que a pressão de caça no Nordeste é mais intensa -- em vez de comer só porco-do-mato ou veado, por exemplo, as pessoas também comem preguiça, comem macaco", explica.


Pervasive Defaunation of Forest Remnants in a Tropical Biodiversity Hotspot

Gustavo Canale, da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso)
Carlos Peres, da Universidade de East Anglia (Reino Unido), 
Cassiano Gatto (Inpa), 
Carlos Guidorizzi (ICMBio)
Cecília Kierulff (Instituto Pri-Matas)

Abstract
Tropical deforestation and forest fragmentation are among the most important biodiversity conservation issues worldwide, yet local extinctions of millions of animal and plant populations stranded in unprotected forest remnants remain poorly explained. Here, we report unprecedented rates of local extinctions of medium to large-bodied mammals in one of the world's most important tropical biodiversity hotspots. We scrutinized 8,846 person-years of local knowledge to derive patch occupancy data for 18 mammal species within 196 forest patches across a 252,669-km2study region of the Brazilian Atlantic Forest. We uncovered a staggering rate of local extinctions in the mammal fauna, with only 767 from a possible 3,528 populations still persisting. On average, forest patches retained 3.9 out of 18 potential species occupancies, and geographic ranges had contracted to 0–14.4% of their former distributions, including five large-bodied species that had been extirpated at a regional scale. Forest fragments were highly accessible to hunters and exposed to edge effects and fires, thereby severely diminishing the predictive power of species-area relationships, with the power model explaining only ~9% of the variation in species richness per patch. Hence, conventional species-area curves provided over-optimistic estimates of species persistence in that most forest fragments had lost species at a much faster rate than predicted by habitat loss alone.

Ler o artigo inteiro na página da Revista Plos One:

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